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Uma expedição científica com um cheirinho de férias: O Parque Nacional de Ranomafana – 3 de agosto

Um dos meus filmes favoritos é o Parque Jurássico, e a primeira sensação que tive ao entrar no parque fez-me lembrar aquela mítica cena em que os gigantes portões do Parque Jurássico se abrem, e a música do filme ecoava na minha cabeça. Sentia-me um autêntico explorador. Neste caso a entrada era feita através de uma ponte, não tinha nenhum portão grande e magnífico, mas era uma pequena transição entre o mundo humano e o mundo natural, a partir daquele ponto estávamos a entrar para outro mundo. Foi uma sensação indescritível e que ainda hoje me deixa com pele de galinha ao me recordar do momento.



A entrada mágica

Quando estamos a planear viagens é normal vermos imagens dos locais que vamos visitar. E é algo que eu faço quase sempre, até para conseguir ter uma ideia do que poderei fotografar. Mas nada nos prepara para aquele primeiro impacto de termos uma floresta gigante à nossa frente. Aqueles aromas naturais que mudam a cada passo, e o som do vento a atravessar por entre a copa das árvores lá no alto, sim, porque a copa ficava a mais de 30 metros de altura. Rapidamente ficamos cobertos de vegetação, e a intensidade da luz reduz para mais de metade. Enquanto isso, os nossos olhos procuram incessantemente algo a mexer, algum sinal de vida, algum animal para fotografar. Neste dia tivemos a sorte de ter um guia a ajudar-nos, em especial a encontrar alguns animais mais esquivos.



Aves e falta de luz

Os primeiros animais observados foram precisamente aves, enquanto o nosso guia explicava alguns detalhes sobre a floresta tropical de Ranomafana, ia escutando algumas aves e dizendo o que eram. Claro que na altura a maioria daqueles sons eram totalmente estranhos para mim, mas com a ajuda do guia comecei a decorar alguns dos sons que íamos escutando. Até que nos últimos dias já sabia reconhecer algumas aves, pouco antes de nos virmos embora para Portugal, infelizmente. A primeira ave que consegui fotografar foi uma espécie de melro colorido, e bolas, foi aí que me apercebi que a floresta era mesmo escura! Aqui comecei a questionar como deveria de proceder para continuar a fotografar. As primeiras fotografias que tirei iam diretamente para o lixo... custa imenso dizer isto, mas é a realidade. Em especial quando necessitamos das fotografias para livros ou outros suportes, queremos fotografias interessantes e com qualidade. Naquele momento estava a fotografar a 16.000 ISO e a velocidade pouco passava dos 1/50 segs... Muito aquém do que pretendia. Para conseguir ter velocidades suficientemente altas, precisava de puxar o ISO para os 50.000 ou mais! E isso estava fora de questão, e nestas condições todas as fotografias ficavam tremidas e escuras. Teria de arranjar uma solução... felizmente voltámos a encontrar o melro e consegui umas fotografias melhores.



Os lémures

Finalmente apareceram os primeiros lémures! Não nas melhores condições, pois estavam imensos turistas de volta deles. Eu nem os conseguia localizar, e aproximar-me deles estava fora de questão. Pois não havia espaço na floresta para tal. Sinceramente foi uma realidade para a qual não estava preparado. Contava ter a floresta quase só para nós, mas a quantidade de pessoas a visitar aquele espaço era inacreditável. Eu próprio era um turista naquele momento. Mas felizmente o nosso guia pensava um pouco como nós e simplesmente fomos procurar outros animais, e regressaríamos mais tarde para voltar a procurar aqueles lémures. Isto parece mais fácil do que imaginamos, basta andar na floresta e está feito. Mas não! O ponto curioso é que quando contratamos os serviços dos guias, estamos também a contratar "spotters". Estes têm a tarefa de caminhar a passo acelerado pelos trilhos da floresta à procura de animais, e vão comunicando com o guia principal quando encontram algum animal interessante. E foi assim que demos com o segundo grupo de lémures, neste caso uma família de Milne-Edwards' Sifaka (Propithecus edwardsi). Foi inacreditável. Ficámos uns bons 20 minutos a observá-los, o que me deu tempo para tudo e mais alguma coisa. Inicialmente foquei-me em fotografar, o que com a falta de luz trouxe logo imensas dificuldades e uma grande vontade em desistir. Depois de tanto caminhar, ficar cara-a-cara com os lémures e não conseguir uma fotografia de jeito. Será que iria regressar a Portugal e não ter fotografias para mostrar? A única solução que me ocorria era recorrer ao flash, tal como faço nas sessões de retratos e nos casamentos. Em Portugal raramente utilizamos o flash para fotografar vida selvagem, temos luz, ou tentamos que os animais fiquem à luz. E assim foi, encaixei o flash e voltei às fotografias. Corrigi algumas definições para que tudo ficasse como gosto, e continuei a disparar. Mas passado uns minutos já havia esgotado todos os ângulos possíveis. E foi aí que me lembrei. Eu trouxe um tripé, deveria de estar a filmar! Preparei tudo e comecei a realizar algumas filmagens.



As primeiras filmagens

A ideia de fotografar os animais que iria encontrando ficava cada vez mais distante, e a vontade de os filmar tornava-se mais a realidade. Isto porque ao filmar eliminava um pequeno problema da fotografia. Isto é, não necessitava de utilizar velocidades elevadas para filmar. Mas sim, 1/50 ou 1/200 (slow-motion). Que era precisamente a velocidade máxima que estava a obter nas primeiras fotografias que tentei tirar. E aí poderia usar um ISO mais elevado, mantendo a velocidade bloqueada nos 1/50 segundos, ou, nos 1/200 segundos. Agora a ideia de filmar levantava novos problemas, não tenho nada planeado. Não pensei em shots que poderia obter, não tenho um argumento que quero seguir, apenas filmar por filmar. O que nem sempre é benéfico, porque não temos algo a seguir, que filmagens irei necessitar? Devo trocar de local para ter diferentes filmagens? Pensar nisto tudo quando ainda estamos no campo, a procurar animais, e a tentar arranjar um bom ponto de observação, não nos ajuda a obter os melhores resultados. Mas como este passeio também não estava no programa, diria que tentei apenas aproveitar ao máximo sempre que os animais colaboravam. Os vídeos vão aparecer no meu canal do YouTube, se forem até lá vão poder ver com melhor qualidade.


Por entre o verde verdejante

Ao afastar-nos da família de lémures que fotografámos, fomos caminhando pela floresta à procura de mais animais. Voltámos a encontrar diversas espécies de aves, que infelizmente não deram grande oportunidade de as fotografar. E regressámos ao ponto onde estavam os primeiros lémures, aqueles que não fotografei porque havia muita gente. E para grande surpresa, não estava rigorosamente ninguém. E estava um lémure mesmo perto de nós, dava para fotografar com o telemóvel. E eu com a Sony 200-600 acabei por ter de me ir afastando para conseguir ângulos de jeito. E foi o primeiro que também consegui filmar em condições, o que me deixou imensamente animado para o resto da expedição. Ficámos imenso tempo ali, penso que por minha culpa. Pois, coloquei a câmara no tripé e ali fiquei a filmá-la a comer. Sim, ela. E tem um nome. A Simone é uma celebridade no Parque Nacional de Ranomafana. Mas a sua história é muito triste, pois é a última da sua espécie naquele parque. A Simone é um Greater Bamboo Lemur (Prolemur simus), e gosta de perseguir grupos familiares de Golden Bamboo Lemur na esperança de encontrar algum igual a ela, mas sem sucesso. Acabando sozinha a comer bamboo. Vê-la ali, naquele momento trouxe grandes sentimentos. Será que é para aqui que a maioria das espécies caminha? Será que quando finalmente conseguir passear pelo mundo só irei encontrar o último exemplar de cada espécie?



O ladrão de bananas

O final da caminhada era num ponto de observação, onde era possível ver o centro ValBio do outro lado da floresta. A vista era de deslumbrante, mas também deu para compreender a distância a que estávamos do centro. E se naquele momento eu já estava cansado de tanto subir e descer com o equipamento às costas, nem imaginava o que me esperava nos próximos dias. Enquanto ali estávamos a disfrutar da paisagem sentimos um movimento atrás de nós. Era um Malagasy Ring-tailed Mongoose (Galidia elegans). Inicialmente pensámos que andava a fugir de visitantes, o parque continuava cheio de visitantes a caminhar em passo acelerado de um lado para o outro, enquanto nós estávamos mais chill no ponto de observação. De repente apareceu no lado oposto caminho, o local onde o vimos pela primeira vez. E andava pela floresta à procura de algo, talvez comida. Mas nós não tínhamos nada para lhe dar. Foi então que encontrou umas cascas de banana, e claro, pouco alimento existe ali. Mas ele lá desencantou algo, começando a lamber freneticamente as cascas de banana do lado de dentro, e a verdade é que existe muito alimento ali que nós acabamos por desperdiçar. Depois desta aventura regressámos ao centro ValBio.



Este passeio na floresta foi bastante útil, isto porque ajudou ambientar aqueles ambientes, permitiu conhecer melhor outros elementos da equipa e deu para testar o material, e criar um verdadeiro plano de como irei fotografar animais nesta floresta.


Primeira noite de capturas

O interessante é que a aventura não terminou ali. Regressámos ao centro e começámos a preparar a noite! Isto porque iriamos tentar capturar morcegos pela primeira vez! Por isso, teria de carregar baterias, confirmar que tudo estava a funcionar e escolher que equipamento levar para a sessão de captura. Desconhecendo o que poderíamos encontrar, mas estando muito entusiasmado com as surpresas que daí ante vinham. Em especial porque poderia procurar por animais noturnos, como anfíbios, invertebrados e lémures. A duas horas de cair a noite rumámos novamente à floresta, voltámos a atravessar a ponte do parque jurássico e fomos para o ponto de amostragem. Desta feita tínhamos já connosco os dois guias que nos iriam acompanhar durante toda a expedição. E a sua ajuda foi preciosa nesta primeira noite de capturas, tal como será para o resto da expedição. Montadas as redes era altura de esperar, enquanto isso, eu caminhava à procura de animais. Nunca me afastei muito das redes, pois também queria fotografar os morcegos que eles capturassem, e tirar umas fotografias a eles a trabalharem. E conseguimos capturar o nosso primeiro morcego, que foi processado e libertado rapidamente. Nas restantes duas horas não apanhámos mais nada. Mas eu andei entretido a fotografar invertebrados e as relas que ia encontrando.



O cochoar das relas

Inicialmente não encontrava nenhuma. Foi caminhar e caminhar sem grande sorte, apenas alguns invertebrados aqui e ali. Também vimos um lémur precisamente quando não tinha a câmara comigo, um erro, eu sei, mas estava de vigia às redes. E existem muitas partes da câmara que podem ficar presas na rede, e quem sabe estragar as redes de captura. O que não era muito bom sinal se acontecesse. E por isso, preferia na maioria das vezes deixar a câmara na mochila. Mas passado umas horas sem morcegos, lá cedi e comecei a andar sempre com a câmara. Por vezes, apenas com a objetiva macro e noutros casos com a objetiva 70-200mm para os lémures. Nesta noite apenas consegui fotografar algumas relas, e descobrir que a maioria se encontram na copa das árvores, e nós junto ao solo. A mais bonita foi fotografada a partir da ponte, pois era um ponte elevado. Mas sem possibilidade de alterar a composição ou melhorar a luz.

Foi uma boa noite de testes, serviu não só para nos alinharmos na montagem das redes, como me ajudou a saber como proceder para fotografar durante a noite. Regressámos ao centro e fomos acabar de preparar as coisas, pois no dia seguinte teríamos a primeira parte da expedição a começar bem cedo!





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Criei vários vídeos sobre fotografia de vida selvagem onde explico como fotografar diversas espécies e ainda algumas das melhores técnicas fotográficas. Desde fotografar aves costeiras a fotografar o bonito guarda-rios, é uma pequena playlist que espero que desfrutem e deixem um like nos vídeos.



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